Licença-prêmio: prefeitura admite que não tem previsão de pagamento

Em resposta ao requerimento da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), prefeitura deixa pagamento dos benefícios antes do vencimento como incerteza

Em resposta ao requerimento da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), a Prefeitura Municipal de Sorocaba admitiu que não tem previsão sobre o pagamento em pecúnia das licenças-prêmios em 2024 consideradas “não obrigatórias”, aquelas cujo prazo de pagamento ainda não venceram. De acordo com a vereadora, essa falta de planejamento desrespeita os trabalhadores, que desde a pandemia já foram afetados com o congelamento do tempo de contabilização deste direito.

“Nos últimos anos, a população de Sorocaba aumentou significativamente e o número de trabalhadores da prefeitura não acompanhou este crescimento, o que está exigindo muito mais dos servidores públicos que estão na ativa. Temos um batalhão de trabalhadores sobrecarregados, tanto pelo déficit de profissionais, quanto pelo aumento da demanda de trabalho. É inadmissível que a prefeitura aja com irresponsabilidade e falta de transparência, ao não criar um cronograma de concessão deste direito àqueles que já atingiram o tempo necessário para obter a licença”, critica.

A licença-prêmio (ou licença-assiduidade) é o benefício concedido a servidores públicos de todas as esferas, após o período de cinco anos de trabalhos de forma ininterrupta e sem faltas injustificadas. Quando atinge o período aquisitivo do benefício, o servidor tem direito a três meses de descanso remunerado ou ao pagamento desse direito em pecúnia (em dinheiro).

Apesar do servidor obter o direito à licença após cinco anos de assiduidade, a prefeitura tem como período de pagamento em pecúnia os próximos cinco anos seguintes, se tornando uma obrigação compulsória só ao término deste período. O problema, de acordo com a vereadora, é que a prefeitura trabalha sempre no sentido de conceder o direito só ao término do prazo de pagamento, “o que torna a concessão do benefício conquistado em cinco anos, em um benefício pago apenas em 10 anos, afetando o planejamento financeiro dos trabalhadores, criando frustração e desestímulo”, aponta.

Fernanda também destaca o período da pandemia, onde a concessão deste direito trabalhista foi atrasada em virtude da Lei Complementar (LC) 173/2020, editada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que congelou a contabilização do tempo de serviço para benefícios dos servidores públicos federais, estaduais e municipais.

“É como se aquele período entre 28 de maio de 2021 e 31 de dezembro de 2021, correspondente ao decreto de calamidade pública pelo coronavírus, nunca tivesse sido trabalhado. São 583 dias de trabalho retirados dos trabalhadores, atrasando sua evolução funcional, promoções e gratificações. O atraso da prefeitura, somado aos efeitos da LC 173, criaram a aberração de alguns servidores só poderem gozar do pagamento da licença-prêmio após 11 anos e meio de trabalho. Isso é de um desrespeito sem precedentes”, avalia Fernanda.

Fernanda defende que a prefeitura divulgue um cronograma aos solicitantes do pagamento em pecúnia, apresentando uma previsão do pagamento, respeitando a ordem daqueles que estão aguardando a mais tempo. 

“É muita incoerência o prefeito divulgar que há orçamento recorde ano após ano, mas não incluir as pessoas que trabalham para que a prefeitura obtenha esta arrecadação. Isso mostra que o governo Manga não valoriza e nem prestigia a engrenagem da prefeitura, que são os seus trabalhadores”, questiona.

Articulação pela derrubada da LC 173

Apesar de fugir da sua esfera de atuação, Fernanda também está observando atentamente a luta pela revogação da Lei Complementar 173/2020. A deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL) apresentou o Projeto de Lei Complementar (PLC) 21/2023, que altera a lei do congelamento, recuperando a contabilização dos 583 dias de congelamento como tempo de serviço.

Fernanda Garcia está em contato com a deputada federal e deverá fazer um encontro em breve para discutir, entre outras coisas, a luta pelo descongelamento e a luta contra a reforma administrativa, que está tramitando no Congresso e pode significar um atraso aos direitos dos servidores públicos.

“A iniciativa da Luciene é muito importante, pois além restabelecer a contagem do tempo, também prevê o pagamento retroativo daquilo que não foi contabilizado. Existem muitos trabalhadores que deveriam ter recebido a incorporação por quinquênio, por exemplo, e ainda não obtiveram. A proposta do PLC 21 propõe que os trabalhadores sejam indenizados pelos valores atrasados, fazendo justiça salarial a quem nunca parou, mesmo na pandemia”, defende.

Caso aprovada, além da licença-prêmio, a retomada da contagem de tempo de trabalho também contribui para requisição de anuênios, triênios, quinquênios, sexta parte e demais mecanismos equivalentes para servidores públicos. A concessão desses direitos varia de acordo com cada legislação do ente federativo empregador.

DEIXE SEU COMENTÁRIO