Imagens muito fortes tomaram conta das redes sociais nos últimos dias, mostrando os ataques promovidos pelo Hamas à Israel, em uma festa próxima a Faixa de Gaza. Centenas de pessoas correndo, muitas mortes e medo generalizado. Além disso, vimos centenas de entrevistas e reportagens, inclusive com brasileiros narrando a situação.
Primeiro, é fundamental sempre lamentar as mortes, sobretudo de civis. Quem deseja um mundo justo, onde as pessoas vivam com dignidade, jamais pode sentir prazer ou satisfação ao ver a morte, sobretudo de pessoas inocentes.
Mas, para entender essa crise, não é suficiente acompanhar os fatos dos últimos dias. É necessário saber o que acontece há 75 anos. Desde a criação do estado de Israel dentro do território palestino, a expansão militar e territorial israelense expulsou milhões de cidadãos das suas terras e comprimiu essas pessoas basicamente em dois territórios: ao leste, pulverizados na região da Cisjordânia, e ao oeste do país, e concentrados na Faixa de Gaza, cercados por um grande muro. A situação do povo palestino na Faixa de Gaza é tão absurda, que eles sofrem com escassez de alimentos, de acesso à água potável e uma superpopulação de mais de 2,1 milhões de habitantes em um terrritório de apenas 365 km². Para ter ideia dessa densidade, a extensão da Faixa de Gaza é 20% menor que a cidade de Sorocaba (SP), que tem 450 km² e 723 mil habitantes.
Os palestinos perderam suas terras, suas casas, plantações, suas memórias antepassadas e estão cercados territorialmente, com acesso reduzido ao Mar Mediterrâneo (controlado pela marinha israelense) e à fronteira com o Egito.
Mas e o Hamas? O Hamas é uma resposta violenta contra uma história de violência. Enquanto a comunidade internacional covardemente ignora o que acontece, parte da população palestina passou a se organizar de forma armada. Entretanto, não é possível estabelecer uma comparação simétrica. Enquanto Israel dispõe de um dos exércitos mais equipados e preparados do mundo, os palestinos não têm exército, não têm direito a soberania às suas terras e a cada ataque promovido pelo estado de Israel a população palestina não tem nenhum mecanismo de defesa institucional. Não se trata de uma guerra. É um massacre.
O que mais entristece nessa situação é ver como as lentes da imprensa ocidental têm um enviesamento geopolítico que só é capaz de se sensibilizar com a causa pró-Israel, ignorando a tragédia humanitária e o histórico de limpeza ética promovido contra a população palestina – povo árabe, de maioria muçulmana.
Essa questão só pode ser resolvida no campo do direito internacional: restabelecendo o território historicamente tomado da Palestina, desrespeitado por Israel, mesmo com a convenção da Liga das Nações de 1922 – que, após a Primeira Guerra Mundial, efetivou os estados independentes do Iraque, Líbano, Transjordânia (hoje Jordânia), Síria e deveria ter feito o mesmo com relação a Palestina. Entretanto, com a intervenção da ONU, em 1948, que dividiu o estado palestino em dois, criando o de Israel, o respeito as fronteiras e soberania da Palestina jamais foi garantido.
Essa omissão internacional permitiu uma das maiores violações dos direitos humanos do nosso tempo, que é o cerceamento ao direito palestino e o consequente massacre e precarização das condições de vida do seu povo, que tiveram sua terra roubada e vivem cercados por um muro gigante, mantidos como reféns da maior prisão a céu aberto do planeta Terra.