Mais uma encenação de golpe. Essa é a quarta nesta semana? Enquanto o Brasil grita “fome”, Bolsonaro convoca uma reunião com pelo menos 60 representantes internacionais, para desesperadamente tentar descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro, já que ele vem perdendo popularidade a cada pesquisa eleitoral lançada. Não há precedentes na história de um Chefe de Estado convocar a comunidade internacional para atacar o seu próprio País.
Com um enredo digno de uma tragicomédia, o inquilino do Palácio da Alvorada apresentou-se como vítima de uma “conspiração maligna” que o afeta desde 2018, ao mesmo tempo que subia o tom das ameaças, através do uso das Forças Armadas interferindo no processo eleitoral. Bolsonaro novamente falou sobre os tais ‘hackers’ nos computadores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), falou contra o voto eletrônico, novamente as mesmas mentiras.
A novidade da vez são os convidados: diplomatas representando outras nações. Bolsonaro discursou para eles como se estivesse no seu cercadinho, ou falando aos seus seguidores das lives. Atônitos, os embaixadores sequer aplaudiram à primeiro momento. Só o fizeram, de forma constrangida, após os animadores de plateia do governo local puxarem as palmas. A resposta dos diplomatas à imprensa não seria diferente: “impressionados negativamente”, disseram ao The New York Times. Ao que parece, o plano de Ernesto Araújo, o antigo Ministro das Relações Exteriores se concretizou, nos tornamos oficialmente uma republiqueta dirigida por um lunático.
Bolsonaro confia no sistema eleitoral, por isso o ataca
O episódio dessa semana faz parte de um enredo totalmente previsível (com alguns improvisos no percurso). Bolsonaro copia escancaradamente as táticas usadas por Donald Trump, idealizadas por Steve Bannon: ganha notoriedade pelas posições reacionárias e ataques a grupos sociais; elege um inimigo a ser combatido; cria e dissemina teses e notícias falsas; arregimenta uma legião de seguidores – que se retroalimenta de um eficiente esquema de comunicação; com seu declínio, coloca em dúvida o sistema eleitoral e inflama o seu público para não aceitar o resultado das urnas.
Nos EUA, essa trama resultou na invasão do Capitólio e deixou o saldo de cinco mortos e 14 policiais feridos. Trump deverá ir à julgamento pelo caso, e seu estrategista político, Steve Bannon, foi condenado essa semana por desacato ao Congresso – além de correr risco de condenação pela participação na tentativa de golpe até o final do julgamento.
Aqui no Brasil, o episódio dessa segunda-feira (18), transmitido pelo canal de televisão institucional, e dirigido à comunidade internacional, ameaça claramente fazer o mesmo que Trump, atacar o processo eleitoral – já prevendo a sua derrota.
Na verdade, Bolsonaro ataca o sistema eleitoral, justamente por acreditar na eficiência dele. Desde que se elegeu, ele mobiliza o Estado a seu favor. Usa Forças Armadas, Polícia Federal e Abin, como se fossem sua guarda pessoal. Interfere em investigações, tirando os responsáveis dos seus cargos, usa escancaradamente o dispositivo das emendas para a compra política do “Centrão”, entre outras atrocidades. Se o sistema eleitoral fosse passível de fraude, Bolsonaro a faria sem o menor pudor. Como ele não consegue interferir na urna eletrônica, ele a decretou sua inimiga. É dela que sairá a sua provável derrota.
O medo da derrota
Apesar dos ataques baixos de Bolsonaro, ele foi eleito seis vezes pelo voto eletrônico – além das eleições dos filhos. Desde que ele disputa cargos eletivos foi eleito em todas as participações: como vereador, deputado federal e presidente da república. Pela primeira vez, ele parece sentir o cheiro da derrota.
Enquanto Bolsonaro importava o manual trumpista de como manter sua base militante organizada, a condução neoliberal de seu governo, orientada por Paulo Guedes, provocou uma das maiores catástrofes econômicas da história brasileira, com a disparada do câmbio, o aumento da inflação e a manutenção do desemprego. Sem contar a desastrosa condução da Covid-19, que matou centenas de milhares de brasileiros, empurrados ao trabalho pela assistência insuficiente do governo e, posteriormente, na negligência da compra de vacinas.
O Brasil do Bolsonaro, é Brasil que voltou a ter fome. Onde até os itens cujos preços são controlados pelo governo, como combustíveis, gás de cozinha e energia elétrica, dispararam, ajudando a derrubar o poder de compra das pessoas. Esse caldeirão de indignação represada, não pode ser contida por Bolsonaro. Por isso, ele persegue o instrumento que vai anunciar a sua derrota.
A reunião com a diplomacia internacional serviu para nós e o mundo reforçarmos a constatação: Bolsonaro é inapto, desumano, criminoso. É por isso que ele não deve conseguir, no voto, a reeleição. Que, assim como nos EUA, o próximo passo seja o julgamento dele – e que termine na prisão.