Opinião: Mulher preta, retrato do Brasil

Comemoração, luta e orgulho de existir. Essa semana – mais precisamente no dia 25 -, foi lembrado o Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha. Uma data solene, mas que infelizmente ainda precisamos reservar um espaço para discutir o racismo estrutural que que tenta matar aquelas que mais representam o Brasil real.

O rosto do Brasil é o de Tereza de Benguela, mulher preta que chefiou um quilombo em Quariterê, Mato Grosso. “A Rainha”, como ficou conhecida, representou a luta contra o racismo e o sistema patriarcal. Todas as mulheres negras do Brasil tem em si uma Tereza de Benguela, por isso no Brasil ela foi escolhida para representar a data.

Com a mesma potência de Tereza, o mandato usa sua voz para denunciar os retrocessos que nossa sociedade teve com a ascensão do inominável ao Palácio da Alvorada com seus “valores”.

Machismo, misoginia e racismo são parte do DNA do bolsonarismo e isso nunca foi escondido. Vide como exemplo a fala asquerosa contra os quilombolas, as investidas contra o Instituto Palmares e pela tentativa de invisibilizar principalmente a mulher negra, como Marielle Franco, camarada de lutas, fruto da luta antirracista, mas que também foi ceifada e que por sinal até agora não se respondeu a principal questão: “Quem mandou matar Marielle e Anderson?”.

As pretas do Brasil venceram também aos ataques genocidas e negacionistas de Bolsonaro na pandemia. De acordo com o Jornal da Universidade de São Paulo, elas foram as que mais morreram e que também tiveram maior propensão à morte. Um dado publicado pelo jornal Estado de Minas diz também que mulheres negras trabalhadoras da indústria têm 145,5% mais chance de morrer em decorrência da Covid-19 do que um homem branco que exerça a mesma função. O vírus não é racista, mas a administração da pandemia, sim.

No dia de celebração do vigor da negritude feminina, ainda não podemos nos esquecer da culpa do patriarcado e do machismo pelo sangue derramado das brasileiras. De acordo com o jornal Nexo, elas são a maioria das vítimas de feminicídio, 62% dos casos de 2021, evidenciando uma das facetas da solidão da mulher negra, a falta de segurança pública, sobrando à elas sobreviver.

Sobrevivência, palavra que faz parte do cotidiano da mulher negra no Brasil. As homenageadas e exaltadas hoje, lutam amanhã, e depois de amanhã e todos os outros dias para terem sua voz ouvida, seus direitos respeitados; sobrevivem para ascender na pirâmide social onde são empurradas pelo capitalismo agressivo para os últimos lugares, para disparidade salarial, para o subemprego, para trabalhos análogos à escravidão.

Elas sobrevivem também à fome. De acordo com o G1, 6 a cada 10 famílias chefiadas por mulheres pretas sofrem com a insegurança alimentar, isso tudo após Bolsonaro e sua equipe “técnica” chefiada pelo filhote da ditadura chilena, Paulo Guedes, trucidar as políticas de assistência social e ter o prazer de fazer o país retornar ao mapa mundial da fome, e agora em jogada eleitoreira, Bolsonaro tenta melhorar seus números com a PEC Kamikaze, simplesmente um completo absurdo.

Sim, existem várias feridas nos corpos e almas das mulheres pretas do Brasil, mas a resiliência e a força que existe dentro de cada uma, brilha mais do que qualquer tentativa de ataque. A garra para lidar com o cotidiano é a mais digna homenagem às nossas que não estão mais entre nós, e continuaremos, como frutos das Terezas, Marias Filipas, Marielles e por todas que nos antecederam para criarmos os caminhos para aquelas que virão.

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