Manga mentiu e fez uso político de alagamentos para fugir da suas responsabilidades

Prefeito criou um espetáculo para desviar o foco de um dos maiores esquemas de corrupção já deflagrados na prefeitura de Sorocaba

A intensidade das chuvas de janeiro está causando prejuízos e muita preocupação em Sorocaba. Isso não acontece por acaso, trata-se do mês mais chuvoso da cidade nos últimos 10 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Mas, em meio a preocupação pelos alagamentos e riscos à população, uma nova polêmica ganhou espaço. De quem é a culpa dos alagamentos na cidade?

Essa polêmica fui suscitada pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), no dia 17 de janeiro, ao realizar uma live, feita no mesmo momento em que seu governo ganhava o noticiário policial na TV, pelo caso da compra superfaturada de um prédio próximo ao Campolim, destinado a abrigar a nova Secretaria Municipal da Educação. No vídeo ao vivo, ele reuniu o secretário municipal de segurança urbana, Alexandre Caixeiro, o diretor do SAAE, Tiago Suckow, membros da Defesa Civil Municipal e toda a imprensa sorocabana para anunciar um pedido de “intervenção estadual na gestão da barragem de Itupararanga”.

De acordo com Manga, a vazão deliberada pelo Comitê de Crise Hídrica, no dia 19 de janeiro, que autorizou a vazão do reservatório entre 16 m³/s e 30 m³/s, provocaria a extravasão do Rio Sorocaba, provocando alagamentos e prejuízos à população. Por isso, como encaminhamento, ele divulgou a solicitação de uma intervenção da Defesa Civil do Estado no controle da barragem de Itupararanga, cuja gestão atualmente é outorgada à Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Durante a live, Manga demonstrou um absoluto desconhecimento do reservatório. A partir dos 8 minutos e 18 segundos do vídeo disponibilizado no Youtube, ele chega a relatar uma ligação entre ele o vice-governador, Felício Ramuth (PSD), onde ele fez, confuso, a seguinte afirmação: “sabendo do caos que já aconteceu outrora… é… de… que no caso foi o rompimento, né? Que lá atrás aconteceu na barragem”. Durante a fala, Manga olha para seus secretários, buscando endosso, e todos permanecem em silêncio, em um clima constrangedor. O constrangimento, é porque, em quase 110 anos de construção, a barragem de Itupararanga jamais sofreu rompimento. Veja no vídeo abaixo:

Pronunciamento do Manga não teve nenhum sentido, mas atingiu objetivo

Boa parte dos comentários dos internautas na live do prefeito afirmavam não estar entendendo o que ele tentava dizer. E isso tem uma razão: de fato, o pronunciamento do prefeito não teve nenhum sentido. Ao mesmo tempo em que Manga reclamava do aumento da vazão defluente do reservatório, por elevar o nível do Rio Sorocaba, ele também se assustava com o fato de que água estava há apenas um metro de atingir os vertedouros (arcos que compõem a parte superior da barragem), afirmando, várias vezes, que se isso acontecesse, a operadora “perderia o controle da barragem”.

O transbordamento da água da barragem pelos vertedouros é absolutamente normal e não significa que o “controle foi perdido”. Isso já aconteceu centenas de vezes desde a construção da barragem, em 1914. A medida de liberar o aumento da vazão da represa era para garantir o aproveitamento do volume, onde a força corrente da vazão produz energia elétrica. Como a represa atingiu um estágio de recuperação da sua capacidade de armazenamento de água, os membros do comitê entenderam não haver problema em autorizar a liberação de um maior fluxo de vazão.

Essa, inclusive, é uma das contradições da live do prefeito: ele reclama do aumento da vazão defluente e, ao mesmo tempo, do vertimento da água. Ora, se a vazão fosse reduzida, como ele sugere, isso aceleraria o processo de vertimento, que ele teme. Qual o sentido?

O sentido daquela transmissão, provavelmente, não estava no reservatório. Por isso, tantas informações desencontradas e sem nexo. O sentido verdadeiro sentido da live estava no espetáculo. E nisso ele obteve muito sucesso: toda a imprensa foi agendada a discutir um tema pautado pelo prefeito, enquanto o escândalo do superfaturamento da SEDU, que realmente deveria ser debatido, saiu de forma rápida da maioria dos noticiários locais.

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